Especialista diz que discussões são geradas por orgulho: 'O
outro ter razão seria uma diminuição do valor de quem discute'
RIO — O meme do fim de semana avisou: "Pessoal,
comunicado importante. Quem não brigou com amigos ou familiares por causa de
política, essa é a última chance!!!". E o conselho foi seguido por
brasileiros e brasileiras petistas e bolsonaristas de todo o país. Agora, é o
momento de reconciliação. Como na família do produtor de audiovisual Fabrício
Costa, de 25 anos.
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— Briguei com meu pai e meu irmão. Cheguei a falar que eles
me ensinaram uma coisa e agora estavam fazendo outra. Mas moramos juntos e, na
hora do jantar, conversamos muito e já nos reconciliamos — conta o rapaz, que
ainda tem com quem fazer as pazes: — Ainda não me reconciliei com tios e
primos.
Novamente recorrendo aos memes, outra brincadeira da
internet capta o espírito do momento vivido no Brasil: "Após as eleições,
os encontros com amigos e família serão chamados de audiência de
conciliação". Pelo menos é isso que precisa Lena Melo, de 37 anos. A moça
rodou a baiana com mãe, pai, irmão e sogra. Já voltou a ficar de bem com os
pais, mas ainda falta o encontro com o restante da família.
— Ainda estou brigada, mas vamos nos reaproximar agora —
acredita: — Já passou a eleição, né?
O psicólogo Jorge Jaber viu nesse momento de brigas que a
motivação para as discussões nasci do orgulho: não interessava mais, para os
debatedores, o conteúdo. A questão central da briga, na interpretação dele, era
estar com a razão.
— O outro ter razão seria uma diminuição do valor de quem
discute — avalia Jaber: — Há um ditado popular bem humorado que diz: casa que
falta pão, todo mundo berra e ninguém tem razão. O Brasil é um país que
poderíamos dizer que está faltando pão. Até literalmente.
No entanto, ele está otimista com o futuro das famílias.
Segundo ele, agora que a eleição acabou não existe mais razão para discutir e o
que nascerá é um sentimento conjunto das demandas das famílias.
— Haverá uma tendência dessas famílias se unirem em torno
dos seus interesses específicos e, assim, aparecerá um pouquinho mais de espaço
para se esquecer esse momento pesado de acusações. Vou dar um exemplo:
suponhamos que o presidente eleito seja contra haver mais vagas na
Universidade. Na família que há alguém em vias de prestar o vestibular, toda
ela terá a mesma opinião contrária a do presidente. E isso gera um sentimento
de união.
Já a terapeuta familiar Julia Bittencourt afirma que este é
o momento de avaliar as relações dentro de casa.
— O melhor agora é acalmar os ânimos, pensar e avaliar o que
causou a divergência, refletir sobre as atitudes no momento da briga e tentar
conversar. O diálogo respeitoso é sempre a melhor solução. Afinal, não vale a
pena cortar laços familiares por política. A não ser que as causas sejam outras
e a política seja só uma “desculpa” ou a gota d’água — aponta.
Lena brigou com pais e irmão, mas vem retomando laços Foto: Bruno Alfano
Fonte: Bruno Alfano O Globo