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Bispo Márcio Silva |
Certa vez,
dois irmãos que moravam em fazendas vizinhas, separadas apenas por um riacho,
entraram em conflito. Foi a primeira grande desavença em toda uma vida
trabalhando lado a lado, repartindo as ferramentas e cuidando um do outro.
Durante anos
percorreram uma estreita, porém, comprida estrada que corria ao longo do rio
para, ao final de cada dia, poderem atravessá-lo e desfrutarem um da companhia
do outro. Apesar do cansaço, faziam-no com prazer, pois se amavam. Mas agora
tudo havia mudado. O que começara com um pequeno mal entendido finalmente
explodiu numa troca de palavras ríspidas, seguidas por semanas de total
silêncio.
Numa manhã,
o irmão mais velho ouviu baterem à sua porta. Ao abri-la, notou um homem com
uma caixa de ferramentas de carpinteiro em sua mão, que lhe disse: - Estou
procurando por trabalho, talvez você tenha um pequeno serviço aqui e ali. Posso
ajudá-lo?
- Sim! -
disse o fazendeiro. - Claro que tenho trabalho para você. Veja aquela fazenda
além do riacho. É de meu vizinho, na realidade, meu irmão mais novo. Brigamos
muito e não mais posso suportá-lo. Vê aquela pilha de madeira perto do celeiro?
Quero que você me construa uma cerca bem alta ao longo do rio para que eu não
mais precise vê-lo.
- Acho que
entendo a situação, disse o carpinteiro.
- Mostre-me onde estão o martelo e os pregos que certamente farei um trabalho
que lhe deixará satisfeito.
Como
precisava ir à cidade, o irmão mais velho ajudou o carpinteiro a encontrar o
material e partiu. O homem trabalhou arduamente durante todo aquele dia
medindo,cortando e pregando.
Já anoitecia
quando terminou sua obra, ao mesmo tempo que o fazendeiro retornava. Porém,
seus olhos não podiam acreditar no que viam. Não havia qualquer cerca! Em seu
lugar estava uma ponte que ligava um lado do riacho ao outro. Era realmente um
belo trabalho, mas, enfurecido, exclamou:
- Você é muito insolente em construir esta ponte após tudo que lhe contei!!!
No entanto,
as surpresas não haviam terminado. Ao erguer seus olhos para a ponte mais uma
vez, viu seu irmão aproximando-se da outra margem, correndo com seus braços
abertos. Cada um dos irmãos permaneceu imóvel de seu lado do rio, quando, num
só impulso, correram um na direção do outro, abraçando-se e chorando no meio da
ponte.
Emocionados,
viram o carpinteiro arrumando suas ferramentas e partindo.
- Não,
espere! - disse o mais velho. Fique conosco mais alguns dias, tenho muitos
outros projetos para você.
O
carpinteiro então lhe respondeu:
- Adoraria ficar. Mas, tenho muitas outras pontes para construir.